segunda-feira, 18 de maio de 2009

"Nao te deixarei morrer, David Crockett"


Miguel era o David Crockett, que queria correr mundo e riscos, viver aventuras e desvendar Tenessees.Iria, fatalmente, sofrer, levar pancada e ficar, por vezes, inconsciente. Mas ao seu lado haveria sempre uma índia, que vigiaria o seu sono e cuidaria das suas feridas,que passaria a mão pela testa quando ele estivesse adormecido e lhe diria: «não te deixarei morrer, David Crockett!» E, só por isso, ele sobreviveria a todos os combates. Banal... Elementar...

"Porém, mais tarde comecei a compreender mais coisas sobre as emboscadas, os combates e o comportamento das índias perante os guerreiros inconscientes. Foi aí que percebi que a minha interpretação daquela cena estava errada: o David Crockett representava sim a minha infância, a minha crença de criança numa vida de aventuras, de descobertas, de riscos e de encontros. Mas mais, muito mais do que isso: uma espécie de pureza inicial, um excesso de sentimentos e de sensibilidade, a ingenuidade e a fé, a hipótese fantástica da felicidade para sempre. Esse era o mundo que eu tinha entrevisto nesse dia longinquo da minha infância e que me cabia defender o resto da minha vida. Então, eu era antes a índia, que não podia deixar que se apagasse essa imagem e o seu sentido e que teria de repetir incontáveis vezes ao mais fundo de mim mesmo - lá onde jazia, inconsciente o David Crockett - que não o deixaria morrer."

in Miguel Sousa Tavares, "Nao te deixarei morrer, David Crockett"

Obrigada André Torres por ter me apresentado Miguel Sousa Tavares... E através de sua leitura, compreender que um silêncio pode ser mais inteiro do que a própria nudez... Mas mesmo tão intenso, somente no silêncio o amor pode ser dor... Pois um amor pra ser feliz precisa até mesmo de frases bobas.

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